quarta-feira, 19 de setembro de 2007

o que é o projeto?


Meu nome é Ptolomeu Palma, sou da cidade de Passo Fundo – RS, moro em Santa Maria desde 2003, sou aluno regular do Curso de Letras da UFSM desde o primeiro semestre de 2003, embora já esteja trabalhando com o ensino de língua inglesa desde 1995. Naquela época, eu tinha o ensino de inglês apenas como uma forma de complementar minha renda e talvez como uma forma de ajudar a pagar o Curso de Administração, mas com o tempo, percebi que esta era minha verdadeira vocação. Porem, entre 1995 e 2003 não foi possível estudar regularmente num Curso de Letras, devido ao rumo dinâmico que minha carreira tomou, especialmente entre 1997 e 2002, quando eu trabalhava como professor de inglês em cursos pré-vestibulares da região de Passo Fundo, alem de Chapecó, Cruz Alta e Santa Maria. Não consigo me dedicar totalmente ao curso de letras, pois continuo trabalhando, todavia apenas em Santa Maria, o que me obriga a matricular-me em um número menor de disciplinas. Mesmo assim tenho tentado tirar proveito das experiências que a vida acadêmica me proporciona como estar em contato com grandes professores como os da Universidade Federal de Santa Maria.

Estou em estágio no Instituto Estadual Padre Caetano, uma escola estadual na periferia de Santa Maria que tem aproximadamente 800 alunos nos turnos matutino e vespertino cursando o Ensino Fundamental e Médio.

1. Caracterização do contexto do estágio

No ano de 2006 observei uma turma de primeiro ano de Ensino Médio na mesma escola. Percebi que as mesmas dificuldades que o ensino de língua inglesa enfrentava quando eu havia sido aluno de Ensino Médio em Passo Fundo (1989 – 1991) estavam presentes 15 anos depois. Falo aqui da ênfase num programa marcado pelo ensino de gramática, a ausência de material didático, a impressão de que não há uma razão clara do porque estudar inglês, afinal, a impressão que se tem – enquanto aluno – é que tudo o que é ensinado só tem valor para os testes e provas bimestrais, a total ausência de um norte mais comunicativo para o ensino de inglês, a desvalorização pela qual a matéria Língua Estrangeira recebe com apenas um período por semana e o conseqüente descaso por parte dos alunos (se não todos, quase todos.)

Também percebi, em conversas que tive neste tempo que estou lá,que os estudantes daquela escola não vêem no vestibular uma saída para sua condição social, a maioria deles é muito pobre, por isso a escola conteudista e o inglês gramatiquerio não oferecem nenhuma ferramenta que seja útil aos alunos. Estes alunos vêem no trabalho a única saída o que, em alguns casos, entra em choque com a escola e os força a abandoná-la e/ou trocar por um curso noturno regular ou supletivo. Perversamente, esta saída não passa pela escola uma vez que, após uma análise do programa de língua inglesa, ele não prepara para o vestibular PEIES (e mesmo que preparasse não teria resposta nos anseios dos alunos) nem prepara para o trabalho.

Nesta encruzilhada me encontrei em março de 2007 assumindo a oitava serie, turma 82 nas quartas-feiras das 10:50 as 12:00.

Eu sabia que poderia, sem a menor dificuldade, repetir o programa gramatical, manter os alunos ocupados durante o ano com exercícios de repetição (drills) e ter sua submissão com as notas, boletins e afins, embora tal programa não atraia em nada os alunos. Cheguei a pensar num programa que privilegiasse a aquisição de capacidades comunicativas, mas meu ano de observação (2006) mostrou que tal habilidade não encontraria abrigo no coração de alunos que não viam possibilidade de uso de tal ferramenta, todavia eu gostaria de deixar bem clara a minha total oposição a esta forma de pensar engendrada nas mentes dos alunos de escolas (principalmente as de periferia), de que não é possível aprender a falar uma língua estrangeira em ambiente escolar, assim como da visão de que alunos de periferia jamais precisarão aprender a falar inglês já que a possibilidade de uso de tal conhecimento seria praticamente inexistente, assim como a crença de que os mesmos alunos, por sua origem pobre, não são capazes de aprender a falar inglês. Eu sou prova de que ambas as crenças são falsas e sem o menor fundamento. Por tudo isso, sabia que precisava contribuir com aquelas pessoas e sua luta por uma nova realidade e como, nas palavras da professora Desirée Motta-Moth, um professor é um inconformado que não aceita a realidade como ela aparentemente se impõe (sem referencias bibliográficas disponíveis, já que é uma frase dita em sala de aula na turma de Análise Crítica do Discurso), decidi-me por uma rota alternativa.

Refletindo sobre as palavras de Neill:

As crianças, como os adultos, aprendem o que desejam aprender. Toda a outorga de prêmios de notas e exames desvia o desenvolvimento adequado da personalidade. Só os pedantes declaram que o aprendizado livresco é educação ( Neill, Liberdade Sem Medo 1963, p. 24)

Mahoney:

Tudo o que é significativo para os objetivos do aluno tende a realizar sua potencialidade para aprender (Mahoney 1976, p. 96-7).

e de Rogers

Nossa tarefa, como facilitadores de aprendizagem, é a de suscitar essa motivação, descobrir que desafios são reais para o jovem e proporcionar-lhe a oportunidade de enfrentá-los. (Rogers, 1972, p. 131)

Também levando em conta que a escola possui um laboratório de informática com 12 computadores, todos conectados a Internet, entendi que como professor de inglês, poderia criar um vínculo entre minha matéria e uma ferramenta a qual a maioria dos alunos da escola Padre Caetano não tem acesso (o laboratorio está a disposição de todos os 800 alunos, logo o tempo de exposição dos mesmos a informática é muito pequeno apesar da boa vontade e empenho da escola, direção e do professor Valnez o encarregado do laboratório. Apesar da falta de acesso, ou talvez pela falta de acesso, os alunos nesta idade têm fascínio pelo computador e pela Internet. Uma chance única, afinal, nas palavras da professora Suzana dos Reis:

Pesquisas realizadas nos últimos cinco anos no Brasil têm demonstrado que o uso do computador na sala de aula pode auxiliar no desenvolvimento de uma prática ensino de colaborativo de línguas (Moran, 1998; Costa, 2001, Motta-Roth, Reis e Bortoluzzi, 2000; Vera Menezes, 2001; Motta-Roth, 2001). (Web English: Uma proposta de ensino de Inglês mediado por computador).

Conversei com a professora Luciana, com a direção e a coordenação da escola e com o professor Valnez que me garantiram o uso do laboratório, desde que eu não monopolizasse o mesmo, ou seja, eu não poderia levar os alunos ao laboratório em todas as quartas-feiras pois outros professores no mesmo período em outras turmas seriam impedidos de usar o laboratório.

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